Discriminação homofóbica no Centro de Emprego

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O relato revoltante da Teresa Paixão:

“Ontem dirigi-me ao Centro de Emprego do Conde Redondo, Lisboa, com a minha esposa, Lena, para comparecer a mais uma convocatória a que somos obrigadas por lá estarmos inscritas. E sucedeu uma coisa, para nós, inédita.

Entrámos e dirigimo-nos à senhora da receção, que trabalha para uma empresa de segurança (Charon) e que faz a triagem de quem chega.

Como a minha convocatória era apenas para segunda-feira, perguntei se poderia ser atendida naquele dia (sexta feira) e a senhora disse-me que sim e retirou uma senha para mim e outra para a Lena (que tinha convocatória para o dia).

Logo atrás de nós estava uma senhora, também com convocatória para aquele dia, acompanhada pelo esposo. A mesma encarregada de segurança entrega-lhes apenas uma senha e informa-@s que, quando chegar a vez da senhora, poderão subir junt@s.
Pensei então que também poderia subir com a Lena, visto também sermos casadas. Decidi certificar-me disso e, para isso, dirigi-me à referida encarregada para colocar a questão.

Eu: Ouvi-a comentar com a senhora que poderá subir com o esposo quando for chamada. Poderei também subir com a minha esposa?

Senhora da receção: Se tiver como comprovar que é casada.

Achei que poderia ter perdido parte da conversa e então dirigi-me ao casal em causa e perguntei se a senhora da receção lhes tinha pedido um comprovativo em como eram um casal e a resposta foi negativa.

Fomos atendidas a seguir e soubemos que a convocatória até era para casais inscritos no Centro de Emprego, e que poderíamos comparecer juntas em qualquer das datas. Quando descemos tive a seguinte conversa com a senhora da receção:

Eu: Gostaria de saber o porquê de a senhora me ter pedido um comprovativo de como sou casada, quando não o pediu ao casal que chegou a seguir a nós.

Senhora da receção: Estava apenas a adverti-la para uma situação que poderia ocorrer quando fosse chamada.

Eu: Peço desculpa mas não entendi.

Senhora da receção: Sim, apenas a adverti, pois a técnica poderia pedir.

Eu: Mas porque me advertiu e não ao casal que veio a seguir?

Senhora da receção: A senhora está a tentar descontextualizar as coisas.

Eu: A minha questão é só uma: porque me pediu um documento comprovativo do meu casamento e não o fez ao outro casal?

Senhora da receção: Porque poderia precisar de comprovar perante a técnica.

Eu: E porque teria eu que comprovar que sou casada e o casal a seguir não?

Senhora da receção: Porque o casal de certeza que tem no registo que são casados.

Dito isto, viemos embora, pois esta senhora não conseguia de maneira alguma dar uma resposta válida ao porquê de nos pedir um comprovativo de casamento. Porque, primeiro, se era uma advertência, esta deveria ser dada a todos os casais e não apenas a nós. E, segundo, ela não tinha forma de adivinhar que o outro casal tem na ficha referência ao seu casamento, visto que está apenas a dar senhas e informações, não tendo acesso a quaisquer registos do Centro de Emprego.

A nossa conclusão é que passados quatro anos, nós, temos que comprovar em serviços públicos que somos casad@s. Por isso, não se esqueçam da certidão de casamento em casa, pode fazer-vos falta. Mas se forem heterossexuais não precisam.

Teresa Paixão – 29/03/2014″

Tanto a Teresa como a Helena continuam à procura de emprego. Se puderes ajudar, contacta-as pelo email: heletere@gmail.com

2 thoughts on “Discriminação homofóbica no Centro de Emprego

  1. policia2009 diz:

    A resposta foi simples “Se tiver como comprovar que é casada”… ou seja pode. Já que certamente nos registo constará esse facto no centro de emprego. Ás vezes as coisas são mais simples do que aquilo que nós as queremos transformar. Não conheço a senhora que as atendeu, não vejo nenhuma atitude grosseira e/ou arrogância nem é referida no texto. Também é referido que o casal pediu uma senha. Na convocatória igualmente estará alguma indicação de que será para casais inscritos. Ora, à que convir que é fácil perceber ou supor, que as duas pessoas (de sexo oposto e provavelmente com idade aparente aproximada) que ali acedem após o atendimento da Teresa e Helena, serão um casal, diferente é o caso de ambas, que com datas distintas para atendimento, tal como referido, são vistas como tratando-se de duas pessoas sem ligação amorosa. Se eu vir as duas no meu serviço não as conheço apesar das inúmeras vezes que apareceram na comunicação social e afins, irei cometer o mesmo erro (se calhar também sou homofóbico). Deviam sim reclamar junto dos serviços para que passem a enviar apenas uma convocatório para as duas (casal) e assim libertam um dia e uma hora para outra convocatória distinta, porque o erro a ter existido parte da convocatória. Achei despropositada a conversa seguida ao atendimento… só se o objetivo for que a segurança da próxima vez as conheça como casal mas para tanto bastavam referir isso quando pediram a senha: “somos casadas poderemos ser atendidas ao mesmo tempo?” e a´sim se a resposta fosse diferente da dada ao casal seguinte poderia aqui entender um potencial factor discriminatório por parte da segurança. Não sejamos mais papistas que o papa, se queremos tolerância para nós temos que a usar com igual peso e medida para os outros.

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  2. Filipe Pereira diz:

    A questão aqui está em: porque razão não pediu ao outro casal! E pediu à queixosa..
    Ambas as cartas com certeza eram formulários em que apenas mudam os nomes dos conjugues.
    Se no outro casal tinha informação que eram casados, com certeza a carta da queixosa também o tinha.
    Pode parecer algo inocente, mas rói as pessoas por dentro estes pequenos actos de discriminação.
    Ela existe e está á vista de todos em qualquer balcão.
    Ponto seguinte, em nenhum momento da formação da funcionária lhe foi indicado para supor quem era casal ou não. Profissionalismo é uma coisa que lhe falta.
    Opinião minha é que deveria ser instaurado processo disciplinar a esta funcionária e rever o protocolo a seguir.

    São estes pormenores não limados da sociedade que a torna mesquinha e atrasada face a outras sociedades bem mais respeitadoras.
    É uma questão de respeito pelo outro e nada mais.

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