Juntos contra os mais pobres: Ribau em Aveiro, EPAL em Lisboa

É fácil ser forte contra os fracos.

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Cumprir deveres “custe o que custar” tem sido a palavra de ordem da propaganda de governantes nacionais e locais. Mas é feita por quem tem palas nos olhos: o Governo quer cumprir com os credores internacionais mas, ao mesmo tempo, rasga o memorando de entendimento que tem com contribuintes e pensionistas e quebra as promessas feitas aos eleitores, roubando-lhes pensões e salários.
A nível local a realidade é semelhante. Num momento de calamidade económica e social que tem atingido especialmente quem já se encontrava na (ou perto da) pobreza, a empresa pública de distribuição de água em Lisboa, EPAL, tem cortado a eito o abastecimento deste bem essencial – um Direito Humano – nos bairros sociais, às pessoas que não conseguem pagar a fatura. O secretário-geral da EPAL disse que não havia problema em fechar torneiras a 11.836 famílias porque existem “muitos fontanários e chafarizes” na cidade.
Em Aveiro, Ribau Esteves atenta contra outro Direito Humano, o da habitação. Aos moradores do Bairro de Santiago disse: “quem não cumpre, ou aprende ou salta fora”. Esta afirmação foi feita num momento em que a cidade, como o país, sofre com um desemprego elevadíssimo e na mesma semana em que são lançados estudos sobre o aumento exponencial da pobreza extrema em Portugal. É fácil ser forte contra os fracos.
Ribau Esteves, em Aveiro, ou a EPAL, em Lisboa, exigem de moradores de bairros sociais que cumpram com obrigações que não conseguem cumprir. Sem água para beber, cozinhar, tomar banho e sem sítio onde morar, como farão para procurar emprego estas pessoas que não cumprem por não terem um salário? E onde abrigarão as suas crianças?
A filósofa Hannah Arendt estudou como o mal se banalizou na Alemanha nazi, em que pessoas de bom coração tomaram nas suas mãos parte do holocausto contra ciganos, judeus, homossexuais, deficientes, opositores políticos, prostitutas, pedintes e pobres, apenas por motivos burocráticos. Porque, diziam eles, estavam apenas a cumprir ordens. Porque, desculpavam-se, era o seu dever de funcionários públicos. Hoje conhecemos esta história e temos obrigação de não a repetir, em Lisboa como em Aveiro.

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